Verdades que nunca (te) contei

Eu preciso andar
um caminho só.
Vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou.
Eu escrevo e te conto o que eu vi
e me mostro de lá pra você.
Guarde um sonho bom pra mim...
Los Hermanos - Primeiro Andar


Você está pronto? Por que aqui está a verdade: eu nunca te deixei. Todo esse tempo você esteve aqui, dentro de mim. Te carreguei comigo por todos os intermináveis minutos que passamos separados. Sim, todos os minutos. Mesmo os que passaram quando você não estava por perto.

Para tentar te tirar de mim eu experimentei de tudo, até sentir raiva de você. Mas nunca te odiei. E aqui vai mais uma verdade: só recentemente consegui encarar os fatos. Aceitei que te amava demais para me deixar tomar por qualquer ego. Por qualquer egoísmo.

Eu sei que não deu certo. Eu sei que você já escolheu outra pessoa para caminhar ao seu lado. E tá tudo bem, por que eu nunca quis te aprisionar. Mesmo antes de me apaixonar de você, eu já amava o seu jeito. Sempre tão sério. Sempre tão misterioso. Sempre tão independente. Sempre tão livre. Como eu iria te prender quando o que eu mais amava era justamente a sua liberdade?

Meus olhos parecem ainda não ter se recuperado do impacto de te ter aqui da última vez. Se fecham de segundo em segundo, tentando te encontrar entre um piscar e outro, mesmo eu sabendo que a realidade é que apenas a saudade está onde você deixou teu cheiro. A sensação de ter uma história de amor interrompida é dolorosa demais para ser absorvida rapidamente, sobretudo agora que entendi que o tempo que passamos juntos não irá se repetir e as lembranças dos momentos felizes que vivemos parecem abrir buracos em meu coração.

Tuas impressões digitais estão espalhadas pelo meu corpo e eu sou a prova do crime que é se entregar com hora marcada para acabar. Por que, no fundo, a gente sabia que iria acabar. Não é possível alguém amar tanto assim por tanto tempo, do jeito que nos amamos. A rotina, o trabalho, o dever. Tudo nos chamou e a separação foi inevitável. Mas, se eu soubesse que aquela tinha sido a última vez, teria passado mais do que aquelas poucas horas dentro do seu carro, fumando e ouvindo minha playlist favorita.

Nosso amor, vítima de uma inesperada intervenção do destino, me corrói justamente porque nunca saberei como será o fim. Eu sofro, confesso. E, na minha cabeça, a nossa história ainda continua. Sigo fantasiando e alongando os nossos momentos juntos, sempre trilhando o caminho da perfeição. Minha narrativa nunca desanda, nem tem rotas espinhosas. No meu mundo dos amores eternos nós estamos juntos, cantarolando alguma música dentro do carro, enquanto viajamos para qualquer lugar que a gente queira. No meu mundo dos amores eternos eu ainda sou sua. No meu mundo dos amores eternos nós somos tão felizes... mas toda vez que te vejo, a verdade do fim me atravessa e eu percebo que você não é mais meu.

Por mais que eu me recuse a terminar a nossa história, eu preciso terminar esse texto. Mas como terminar um desabafo sobre algo que não acabou? Eu não sei. Nenhum fim será suficiente. Então, eu escolho terminar dizendo tudo aquilo que eu já te disse, desde o seu fim: nós fizemos o que conseguimos.

Por mais que a rota fosse incrível e os momentos maravilhosos, não tivemos fôlego o suficiente para continuar naufragando nesse mar de incertezas que você sabia que estava entrando junto comigo. Você já encontrou alguém para te resgatar desse oceano de confusão que sou eu. Agora sou eu que preciso seguir. Por uma questão de sobrevivência, eu preciso te deixar ir. Nós precisamos seguir.

Mas vamos seguir mantendo a cabeça erguida e a consciência limpa de que fizemos tudo em prol do sentimento. Vivemos absolutamente tudo que esteve ao nosso alcance, com toda a intensidade que se tornou nossa marca registrada. Tivemos sempre a sinceridade como guia. Fomos justos, sinceros e jogamos limpo. Não nos preocupamos em definir.

Nós só queríamos viver o amor. Até o fim. E o fim chegou.