Será Mesmo que Tudo Acontece em Elizabethtown?

Trilha sonora: Ryan Adams - Come Pick Me Up

Eu não gosto muito de filmes. Assisto vários, tenho lista de filmes favoritos, mas sempre preferi descobrir álbuns novos e cantores desconhecidos. Nunca parei pra pensar o porquê disso... Talvez seja minha hiperatividade que não me permite ficar presa a uma tela por mais de 30 minutos, a menos que a história desperte muito a minha curiosidade, claro. E foi o que aconteceu com Tudo Acontece em Elizabethtown...

Ainda lembro do sábado ensolarado e como minha mãe me obrigava a ficar sentada no sofá até ela terminar de limpar a casa, para eu não atrapalhar e sujar tudo. Zapeando inquieta por todos os canais da televisão, cheguei ao SBT. Estava mostrando o Orlando Bloom em um helicóptero, olhando para uma floresta e pensando em se jogar de lá do alto. Aquela cena bizarra me chamou a atenção simplesmente porquê eu queria saber quão doloroso seria ver aquele homem lindo morrendo. Eu assisti o filme até o final. Eu entendi o que fez ele querer se matar. Ele não se matou. Eu me senti vazia depois que acabou. Eu nunca mais fui a mesma depois daquele filme.

Eu poderia passar horas enumerando os motivos que me fizeram gostar tanto de um filme que nem é tão conhecido, cuja história não tem nada de excepcional e os atores nem são tão renomados. Mas eu não consigo falar de Elizabethtown e não citar três características que são marcantes pra mim:
- Kirsten Dunst e Orlando Bloom formam um par perfeito;
- Entres altos e baixos de insanidade, a história poderia muito bem ser real;
- Eu sou uma Claire Colburn da vida real.

Claire é uma aeromoça que, em uma viagem para Kentucky, observa o único passageiro do vôo com uma mala pequena e um terno azul, indo para uma cidade com pouco mais de 20 mil habitantes. Claire passa boa parte da viagem conversando com Drew Baylor e, antes que ele desça do avião, faz um mapa ensinando-o como chegar até a cidade e anota seu telefone no verso. E é aí que percebo com Claire é genial! Drew poderia simplesmente não ligar e ela seguiria com muitas chances de não ver aquele homem nunca mais... Mas ele ligou. 

Aos poucos Claire descobriu que Drew era um fracassado com tendências suicidas que acabara de ser demitido, deixado por sua namorada interesseira que ele amava e estava indo buscar o corpo de ser pai que falecera. Em uma primeira conversa pelo celular que durou toda uma noite, Claire e Drew descobriram ser mais parecidos do que imaginavam e terem mais assunto do que o planejado. Todo o desenrolar da história é consequência de uma única atitude de coragem de Claire: Ela tomou a iniciativa. O resto do filme mostra uma Claire cheia de ideias loucas, teorias estranhas e um jeito só dela. Uma Claire que no fundo nem faz o tipo do Drew mas que insiste nele, fica ao lado dele no momento mais difícil, ainda que esse estar seja em uma música e um texto no segundo mapa que ela faz pra ele. Uma Claire que continua tomando iniciativa pois sabe que, se depender de Drew, aquela história não continuaria pois ele sequer lembraria ou teria interesse em ligar pra ela. Uma Claire que, a cada encontro, enche Drew de motivos pra querer seguir em frente mas, se possível, com ela ao seu lado. Uma Claire que conquista, cativa e encanta sendo ela mesma...

Porém, ela é insegura. Claire se apega a sua independência e inúmeras qualidades para se mostrar forte, ainda que ela não o seja tanto assim. É depois de ser elogiada por Drew que Claire dá início ao que é, pra mim, o diálogo mais fascinante do filme. Ao dizer que não precisa de "casquinha de sorvete" (algo como receber algo doce que derrete em cinco minutos), ela explica a sua teoria de ser uma "Pessoa Substituta". Ser uma pessoa substituta nada mais é do que estar em segundo plano na vida de alguém, nas palavras de Claire é "ser impossível de ser esquecido mas também nunca ser lembrado". É ter seus momentos de glória e ainda assim continuar sendo apenas um coadjuvante, é ter o seu valor mas ele não ser grande o suficiente. Claire inventa ter um namoro a distância para afastar Drew, por saber que ele tem grandes chances de não ser uma pessoa substituta em sua vida. Claire tem tudo o que Drew precisa mas, por medo de sofrer, o afasta. Querendo trazê-lo para perto, claro, mas ainda assim o afasta.

Como já era de se esperar, a única parte previsível do filme é que eles se entendem e ficam juntos no final. Mas, apesar disso (ou por isso) a genialidade do filme é inegável. Para mim, colecionadora de frases de efeitos e trilhas sonoras que encaixam perfeitamente em cada cena do filme, Tudo Acontece em Elizabethtown foi um prato cheio! Mas foi mesmo a Claire que me marcou.

Claire sou eu. Mulher com alma de menina, cheia de opostos em si. Eu que sonho sem deixar de ser realista. Eu que sou corajosa mas ajo com medo. Eu que tenho vergonha mas a disfarço com uma desenvoltura magistral. Eu que tomo iniciativa esperando ser surpreendida. Eu que me escondo atrás de uma independência mas adoro compartilhar. Eu que escrevo o número do meu celular sem pretensões mas olho o celular a todo instante esperando uma ligação. Eu que digo não lembrar para demonstrar superioridade e desinteresse mas recrio a cena em minha mente com riqueza de detalhes. Eu que digo ser uma exterminadora de amores mas me derreto com histórias românticas e faço textos sobre. Eu que sou sim uma pessoa substituta, mas que quero mesmo é ser tudo na vida de alguém...



Esse texto ficou mais extenso e sincero do que em imaginava.
Eu quis escrever um texto sucinto para que, quem me lê, não se disperse.
Eu quis ser o mais enigmática e me expor o mínimo possível, pra não mostrar minhas fraquezas.
É, eu quis. Mas, poxa...
Eu sou uma Claire!