Sobre voltar para onde a gente se perdeu

All I know is I can't keep on wearing this disguise
When you're the only one that sees what's real in my eyes


Como você já deve ter percebido, eu reativei esse blog.

Indiretamente, ele se tornou como um diário online. Recorro aos textos para desabafar sobre a minha vida e publico aqui para não os perder.

Recentemente tive uma nova decepção amorosa. Eu, no auge dos meus 27 anos e me achando a mais madura de todas as mulheres de minha idade, voltei a chorar ouvindo John Mayer. Do jeitinho que a Amanda Bebiano com 15 anos fazia.

Mas é claro que nem tudo foi igual. Apesar de ainda escrever textos para desabafar meus sentimentos, desta vez eu fiz algo novo: falei tudo o que sentia para a pessoa, antes de expor aqui. Não sei se foi a melhor escolha, pois eu terminei com o coração partido do mesmo jeito. Mas, bom... eu tentei.

Foram semanas tristes, em que me peguei pensando em desistir do amor, me culpando por tudo o que deu errado e repassando todas as falas da Gigi Phillips no filme Ele não está tão a fim de você. Apelei para o horóscopo e tudo o que recebi foi uma previsão superficial e genérica. Momentos desesperados pedem medidas desesperadas. Então fui para o tarô.

Mentalmente, alertei para mim mesma: “Amanda, cuidado. Tarô é coisa séria! Não pergunte sobre aquilo que não quiser saber a resposta, mesmo que ela te doa”. Mas eu não estava aguentando mais lidar comigo. Eu estava insuportavelmente piegas e a autopiedade nunca foi a minha praia. Perguntei única e exclusivamente sobre meus sentimentos. Relacionamentos. Amor. “E aí, tarô: vou ter motivos para preservar o pouquinho de fé que ainda tenho no amor, ou é melhor eu já comprar roupas de frio para me acostumar com a pedra de gelo que está se formando no meu coração?”.

E foi assim. Papo reto. Sem chances para respostas dúbias, porque de bagunça já basta as da minha mente. E a resposta veio. Em alto e bom som, como um grito. Escancarada. Ali na minha cara: passado e presente. Ou melhor, uma história do passado cuja continuação se daria agora. Bem agora, quando o que eu mais preciso é de certezas para superar a confusão que a minha vida virou nos últimos meses...

Seria uma história boa que teria um final triste? Ou uma história triste em que finalmente subiriam os créditos, com um “felizes para sempre” escrito bem grande na tela? Isso eu não tinha como saber, pois esse não é o tipo de pergunta que se faz para um tarô. Esse é o tipo de pergunta que fazemos para nós mesmos, quando chega a hora. E eu sabia que, em breve, eu teria que decidir o final que daria para essa história mal resolvida, que estava vindo do passado para me assombrar.

Até que o dia chegou. Hoje. Em uma quinta-feira fria e chuvosa, o passado invadiu o meu presente. E ele veio sereno como um terremoto. Um terremoto daqueles que a Escala Richter não é suficiente para calcular a magnitude do abalo. Sim, me abalou. Me arrancou do chão e me transportou para o dia 16 de junho de 2015. O dia em que começamos essa história maluca. Uma história cheia de intensidade e exageros. Muitas horas no telefone, muitas declarações de carinho, muita vontade de fazer dar certo e muita chance de dar errado.

Quando o assunto somos nós dois, tudo é muito, você sabe. Embarcamos nessa para quebrar recordes e sermos nós dois contra o mundo, lembra? Mas éramos frágeis demais para combater todo aquele exército de dúvidas, ciúmes, indecisões, imaturidade e os quase 530 quilômetros que nos separavam. Acabou porque tinha que acabar, mas definitivamente não acabou do jeito que a gente queria que acabasse. Eu te disse que aquilo tudo era incrível demais para ser eterno e, no fundo, a gente sabia que a guerra seria difícil demais para nós dois vencermos.

Mas nós resistimos até o final. Até o nosso final. Acabamos. E foi tão doloroso... De um lado eu, tentando a todo custo manter você na minha vida por medo de você me esquecer e com a esperança de que você voltaria a me amar. Do outro lado você, querendo sair correndo da minha vida para conseguir lidar com os danos e contabilizar os estragos que o furacão Amanda te causou. No final das contas, alguém ia sofrer. E eu deixei a vida seguir. Ainda lembrava de você quando ouvia John Mayer, ainda colocava a nossa playlist no Spotify para tocar e me permitia sofrer por você só mais um pouquinho, sonhando com o dia em que você voltaria. Até hoje.

Hoje você voltou do jeito que só você sabe. De surpresa. Na rede social que eu pouco uso. Curtindo uma publicação de seis anos atrás, como se você nunca tivesse ido de fato. E eu acho que você não foi. Duas horas de conversa bastaram para que a gente retomasse o ritmo e voltasse a conversar sobre nada e, ao mesmo tempo, sobre tudo. Do jeitinho que a gente fazia. Conversamos sobre como estão as nossas vidas agora, relembramos como era, compartilhamos lembranças e sentimentos que não conseguimos expressar na época. Você ainda lembra dos meus cantores favoritos, dos meus filmes prediletos e guarda as fotos que tiramos juntos no final de semana mais doce que já vivi nesta vida.

Eu tinha jurado para mim mesma que, se um dia você voltasse, eu faria tudo diferente. Seria calma, paciente, tranquila e não te afogaria nas minhas intensidades. Você sempre falou dos textos que escrevi sobre você, então eu prometi para mim mesma que não escreveria mais sobre você. Eu não queria te assustar. Mas eu falhei. De novo. Eu não consegui lidar com a alegria que a sua volta me causou. Eu não consegui lidar com a satisfação de saber que, assim como eu, você nunca se esqueceu de mim, mesmo após todos esses anos. Mas será que se eu não agisse desse jeito afobado, que é tão Amanda Bebiano, você não teria estranhado? Será que não seria como voltar para o lar e descobrir que ele não é mais aconchegante?

A resposta é que eu não sei a resposta para nenhuma dessas perguntas. Você continua me deixando sem respostas, sem palavras, sem saída, sem entender. E eu tinha me esquecido do quanto é gostoso viver assim, à flor da pele, exposta, vulnerável e pronta para o que quer que aconteça. Eu não sei se dessa vez você vai ficar ou se logo partirá novamente, mas eu sei que você chegou na hora certa. Na hora em que eu mais precisava, assim como você disse que foi quando eu cheguei na sua vida, anos atrás.

Eu não estou contando com a sorte e nem dando vez para o azar. Não estou criando expectativas e nem torcendo para que a história tenha o final feliz que eu sonhava. Ao longo desses sete anos, dois meses e dois dias, eu adquiri a maturidade necessária para lidar com as coisas do jeito que elas funcionam para nós: livres. Eu não sei se você ficará por mais um dia ou mais um ano, mas eu vou aproveitar cada segundo da sua presença. Se o nosso prazo de validade acabar e você decidir partir, eu te deixarei livre para ir. Mas saiba que, lá no fundo do meu coração, eu torcerei para você voltar. Porque o meu sentimento por você sempre será imperecível.