TOC

Uma verdade sobre a vida: Ela é uma montanha russa. 
Uma verdade sobre a minha vida: Tá russa.


Sabe, eu tenho problemas com parágrafos, quebras de linha etc. Pelo menos aqui. Normalmente, eu gosto de escrever tudo num parágrafo único, bem juntinho, sem pausas. Tudo de uma vez só, sem direito a uma pausa para respirar, porque a vida normalmente é assim. Sem intervalos. E por mais que em alguns dias respirar fica quase impossível, a vida não é um ônibus que para pra você descer ou descansar. Ela é uma viagem única e, se você quiser descer em algum lugar específico, vai ter que pular do ônibus em movimento. Eu gosto da minha vida. Gosto muito mesmo. Mas eu também tenho vontade de pedir uma pausa para respirar, de vez em quando. Porque a vida tem dessas de fase. Uma hora tá tudo lindo, tudo azul, tudo maravilhoso e, outra hora, tudo muda. É como se o tal do ônibus tivesse passado por um buraco, derrubando tudo e todos que estão dentro dele. E aí os problemas vêm todos de uma vez. Você comenta que "não tem como ficar pior" e a vida, essa danada, responde "desafio aceito".

Se esse fosse um texto para a faculdade, eu já teria perdido vários pontos por repetição de palavras no mesmo parágrafo. A palavra ônibus, por exemplo. Repeti umas três vezes em menos de cinco linhas. Eu teria perdido uns três décimos de nota nessa parte. Ou três décimos de centésimo, sei lá, perdi minhas qualidades matemáticas. Na faculdade - e na vida - a gente aprende que escreve bem aquele que escreve sobre o que sabe. E que um bom texto, além de veracidade, tem verdade. Não verdade de veracidade, verdade de verdade. Verdade interior, sentimento. Uma vez me perguntei se isso é verdadeiro, por que eu não posso escrever um texto feito inteiro com uma única palavra? Ônibus, ônibus, ônibus, ônibus... Ou até idiota, idiota, idiota, idiota... Esses dias eu quis postar um texto assim, aqui no blog, mas talvez não fosse esteticamente bom ou poético ou bem trabalhado. Mas teria verdade e veracidade, certo?

Camiseta velha da época do colégio, uma caneca com coca-cola e meus olhos colados neste texto. Checando se está tudo ok, se a inquietação passou e se eu já posso dormir. É, a caneca tem coca-cola mesmo. Não é café, não. Não sei que obsessão esse povo tem de que escritora precisa tomar café e, se não toma, você é de mentira. Eu não tomo, por isso sou uma pseudo escritora. Quer dizer, quando o sono ultrapassa o limite do possível e os meus olhos teimam em querer fechar, eu até me arrisco em um copo. Sem açúcar, que é pra dar aquele choque. Mas normalmente eu prefiro com leite, ou algo que tenha um certo teor alcoólico. Acho café uma coisa bem poética, assim como cigarros, óculos de grau estilosos e gente que escreve. O mundo está lotado desse tipo de gente que esbanja intelectualidade, "personalidade forte" e "bom gosto". No Facebook, então... parece que todo mundo virou hipster.

Nas ruas eu vejo gente usando camisetas sobre filmes que nunca assistiram, sobre livros que nunca leram, com frases que nem sabem o que significam. E tudo bem, sabe. Tudo bem não saber, sério mesmo. Tudo bem nunca ter assistido aquele filme. Tudo bem se você só achou bonitinha, mas tem gente que finge que viu, que sabe, que gosta. Pra quê tudo isso? Pergunte a si mesmo se você gosta mesmo disso. Você gosta? Ou você gosta do modelo, da aparência? Porque tudo bem, sabe? Eu já comprei várias coisas apenas pelo visual delas. Tudo bem se você não é fã de Woody Allen ou do Tim Burton (mesmo eu achando um pecado alguém não gostar de seus respectivos trabalhos), tudo bem se você não curte Guns N' Roses, tudo bem se você ouve Calypso. Mas assume, porra. Não fala que é fã da Clarice Lispector se você não sabe o que é cólera. Não invente um personagem para interpretar dentro da sua própria vida. Descubra quem você é e seja.

Tudo bem ainda não saber quem você é. Ninguém sabe, ao certo, porque ninguém é para sempre. Todo mundo está. A vida é o eterno descobrimento de si mesmo. Você monta as peças do quebra-cabeça no caminho, para depois desmontar e refazer. Eu sei que a caminhada é dura, eu sei que de vez em quando a gente só quer um tempinho pra respirar, mas ei... Fecha os olhos e respira fundo. Pensa em quem você é, em tudo o que você quer, em todos os sonhos que estão guardados dentro de você, à espera de qualquer atitude que seja. Sonhos são nuvens dentro de nós, querendo sair e virar estrela. Explodir. Tudo bem se você se perder no caminho, sabe? Sempre dá para se encontrar. Se reencontrar. 

Todas às vezes que você esquecer quem é, como está ou para onde está indo, lembre-se das coisas que quer. E das coisas que queria há cinco anos atrás. E de tudo que ainda vale a pena querer. O tempo acumula muita coisa dentro de nós: culpas, alegrias, dores, tristezas, lembranças. Não se torture pensando nas coisas que você perdeu, nas pessoas que você perdeu, nos erros que você cometeu. "E se..." são palavras que juntas não fazem presente nem futuro. Às vezes você precisa jogar algumas coisas fora, todas essas coisas ruins que só roubam espaços com potencial para abrigar coisas maravilhosas. Às vezes você precisa esvaziar muito além do coração, esvaziar a alma também. Tudo bem estar vazio de vez em quando. Excesso de coisas pesa no caminho, dificulta a caminhada, dificulta a absorção de coisas novas. Alma limpa é folha em branco. Pronta para ser escrita. Pronta para ser apreciada.