Unilateralidade

meu amor é unilateral, mas eu não me importo mais.
Eu sigo em frente, pra frente eu vou.
Eu sigo enfrentando a onda onde muita gente naufragou.
Vou navegar. Quem sabe exista amor escondido do outro lado.
Não custa nada tentar...
(Rodrigo Esteban Tavares)


Cheiro de livro novo, página em branco. Lápis novo pra começar escrever. Parece que foi ontem que tudo começou. Faz tão pouco tempo, mas parece tanto. Você meio tímido e desajeitado, com aquele sorriso malicioso. Entrando e saindo daquela sala. Entrando e saindo da minha vida. E hoje eu decidi escrever um texto sobre você. Ou melhor, eu já escrevi um quando você me deixou com muita raiva, mas esse é o primeiro que decidi publicar. Você nunca me enganou com essa cara de bom menino. Eu já imaginava que por trás desse rostinho bonito havia um belo cafajeste. Um cafajeste metido a pegador. Um pegador com coração de manteiga. Quantas máscaras você usa? Quem é você, realmente?

Você é assustadoramente encantador e sabe exatamente o que eu quero ouvir. Sem problemas, até você mexer comigo. Você blefa com exatamente todas as garotas que te rodeiam. No começo era divertido todo esse jogo de sedução, de encantar e tudo mais. Eu sempre fui cuidadosa, tentei manter uma certa distância, sabe? Conheço de longe o seu tipo. Mas é que você veio tão diferente e tão igual aos outros. Com esse seu charme cretino e seu sorriso convidativo. E esse seu olhar de matar alguém, caramba, por que você tem que ser assim? Você mantém essa pose de pegador, esse jeito de conquistador, mas esconde seu coração preenchido e machucado. Seu coração está ocupado, garoto. Mas quem o preenche não merece. Aí você tenta se esconder dessa verdade em qualquer mentira, com qualquer máscara. Aí você me sorteou. Bilhete premiado na minha mão, só o prêmio que não me pertence.

Eu sempre soube onde estava me metendo, sabe? Mas foi ficando divertido e nostálgico. Era quase real, se não fosse pelo quase. Acho que você me tomou como refúgio, como um porto seguro. Logo eu que não sou nada segura. Você pulou nesse barco furado só pra não se afundar nos teus sonhos impossíveis. E nessa história de te-quero-mas-não-te-amo a gente vem remando. A gente vem ficando de vez em quando, só enquanto a gente pode preencher os vazios um do outro. Enquanto a gente pode matar essa carência mútua. Enquanto a gente pode dar umas boas risadas, falar de futebol ou quem sabe de política...

Mas aí, num dia desses qualquer, volta tudo ao normal. Você volta a correr atrás dela, sorrindo pra ela e dando beijinhos na nuca pra ver se ela arrepia. Você está se esquecendo de olhar para os lados e, quando olhar, vai ser tarde demais. Ela suga todo o seu amor como se você fosse dela, mas ela nunca será sua. Ela já é de alguém. Mas a gente é assim, fazer o quê... Vivemos querendo o que não podemos ter. E quando você se cansa dela, você abraça uma de cá, beija uma de lá e tenta dançar comigo. Regando uma semente que já tá quase secando, quase cansando, quase morrendo.

Talvez seja esse o nosso maior problema: os quases. A gente quase é, você quase me ama e eu quase me contento com isso. Eu gosto de pessoas inteiras, não de metades. Elas não me bastam, você entende? Você até pode se contentar com uma pessoa pela metade, mas eu não. Se bater a carência não me procure, não me ligue e nem mande mensagem. Tem garota demais ao seu redor que pode muito bem sanar a sua carência. Posso até ver elas se fuzilando com os olhos e preparando armadilhas umas para as outras, disputando a sua atenção. Agora, se bater saudade, me abrace e sorria pra mim. Chora no meu ombro, escondidinho se precisar. Porque mesmo sabendo onde estava me metendo desde o começo, no fim da noite eu sempre estarei lá pra dançar com você.