(Des)Prender...

I'm just beginning, the pen's in my hand
Ending unplanned.

Só estou começando, a caneta está em minha mão
O final não está planejado.

Eu estava lembrando, sem dor e sem arrependimentos, de todas as vezes que senti sua falta. Lembrei de todas as lágrimas que deixei correr pelo meu rosto desde o dia em que fomos embora. Desde o dia em que deixamos de ser. Não que algum dia tenhamos sido qualquer coisa mais do que amor. Mas o que é maior que o amor?

Eu estava lembrando de quando eu caminhava por todo aquele corredor na expectativa de que você me visse, de que o destino nos permitisse esbarrar por aí, como se por acaso. Nada é por acaso, tudo tem um motivo. Tudo tem um significado, mesmo que quase imperceptível. E depois de caminhar a passos lentos até a o final daquele corredor e não esbarrar em você, eu voltava triste por não ter conseguido mudar o destino. Eu me lembro de quando eu voltava para aquela pequena cidade e ficava olhando para a janela do meu quarto, esperando qualquer coisa que fosse. Esperando você aparecer lá e me fazer uma visita, como naquele dia de outubro.

Ontem à noite, enquanto eu estava na pista da balada acompanhada de uma tequila e algumas amigas, a nossa música tocou depois de tanto tempo. Eu me senti estranha. Eu sorri com os olhos meio marejados e senti saudade. Senti saudade, mas não senti amor. Pra falar a verdade, eu senti saudade do amor. Foi tão estranho escutar aquela música, que ainda estava no meu celular até semana passada, e não sentir nada. Mais estranho ainda foi ouvir aquela música, não sentir nada e sorrir. Não ficar triste por tudo o que não fomos. Eu me lembrei também de todas as vezes que te liguei só pra ouvir sua voz e não disse nada. Ficava muda e só se ouvia a minha respiração. E quantas vezes a minha respiração ficou gravada pra você no Whatsapp, não é mesmo?

Eu só queria entender porque depois de tanto tempo a nossa música ainda toca por aí. Eu só queria entender porque os versos dela ainda fazem sentido, mesmo que ela não me cause mais nenhuma sensação. Eu só queria entender porque você ainda é a minha melhor inspiração para rabiscar milhões de palavras numa caixa de postagem. Será que nós realizamos todos os nossos sonhos? Será que ainda temos os mesmos sonhos?

Sabe, eu estava me lembrando de tudo isso e me perguntando se em algum momento você sentiu a minha falta. Será que em algum momento, desde o dia em que decidimos abraçar o mundo e cair na estrada - cada um na sua própria estrada - você realmente sentiu falta de mim? Sentiu falta dos meus áudios vazios, do meu silêncio, da minha bagunça para fazer um strogonoff, da minha risada extravagante e de todas as coisas que eu sou? Eu nunca soube responder. Até hoje, quando eu acordei e meu celular apitou querendo dizer que havia uma mensagem de voz para mim. Uma mensagem de voz de aproximadamente 10 segundos, que não dizia nada.

Não tinha nada naquela mensagem de voz, a não ser uma respiração ao fundo. Era a sua respiração. Aí eu sorri mais uma vez, porque depois de tantas respirações minhas no seu Whatsapp, agora eu tinha a sua no meu. Eu comecei a rir sozinha, no meio do meu quarto, no meio de uma manhã de domingo. E depois de rir e ter os olhos mais uma vez marejados, eu sentei na minha cama, olhei para o meu celular e ouvi mais uma vez a mensagem de voz. Mensagem que foi logo interrompida por um selecionar seguido de excluir. Eu apaguei a sua respiração do meu Whatsapp porque não faz sentido eu guardar a voz de uma pessoa que não está aqui, agora. Assim como eu apaguei a nossa música do meu celular, eu apaguei a sua mensagem. Não faz sentido cultivar qualquer coisa que seja de algo que já deixou de ser. Pode me ligar se quiser aparecer, mas ligue daqui uma ou duas semanas. Eu andei limpando gavetas e ainda estou ocupada demais me amando. Preciso checar se ainda há espaço para você, nessa vida.