Notas sobre setembro e alguém de quem nem me lembro


Passou janeiro, fevereiro, março e muitos caras apareceram para mim. Lindos, altos, médios, fortes, magros, loiros, morenos, mas nenhum deles era você. Nenhum deles nem chegou perto de você. Chegou abril com o dia da mentira e outros caras surgiram. Junto com eles, as mentiras. Um deles até me ganhou, mas, além de mim, ganhou metade das garotas da minha lista de contatos do Facebook, celular e por aí vai. Ele ainda faz meu coração bater mais rápido e eu ainda dou de bandeja o meu sorriso de canto de boca para ele, mas ele vulgariza o meu amor, assim como todos os outros dos quais tentei gostar. Nenhum deles durou mais de uma semana. Talvez um mês, os que tiveram sorte - ou azar.

O tempo passou e com ele passaram também os meses de maio e junho. Julho chegou recheado de expectativas e lembranças. A vida não é nada mais do que uma coleção de lembranças e, para tê-las, você precisa viver. Sentada na poltrona da sala, eu percebi que mesmo você tendo ido embora, tudo ao meu redor ainda é você. A parede laranja da sala que você pintou, a capa de proteção do controle remoto que você vivia quebrando, a sua camisa no cabide do meu guarda-roupa que você nunca voltou para buscar e o queijo minas na minha geladeira. Você foi embora e quem come o seu queijo agora sou eu. Você está em todos os lugares, mas não está mais aqui.

Julho também me trouxe de volta aqueles caras que somem e aparecem de vez em quando, só para dizer que estão com saudades. Papo furado. Quem tem saudade corre atrás e não manda mensagem uma vez por mês, por comodismo ou sabe-se lá porque droga eles fazem isso. Vai ver é para sugar um pouco de amor, um resto de alguma coisa que ainda possamos chamar de sentimento. A verdade é que são todos uns idiotas. E nenhum deles é você. Julho passou devagar e plantou sementinhas que pedi muito que vingassem. Eu até gostei de alguém que não era você por mais de um mês. Mas aí chegou agosto para estragar tudo, transformando expectativas em rímel borrado e borboletas em besouros.

Sinceridade passou a ser usada como arma de absolvição. Ser sincero não tira a culpa de ninguém e nem justifica erros. Esse cara que plantou sementes, outro idiota. Deu beijinho e depois mordeu. Vez ou outra aparece para dar beijinho de novo, mas eu já saí desse jogo. Cansei de jogar e ser sempre a segunda colocada, o prêmio nem vale a pena. Mas eu sou isso aí mesmo, sou todos esses amores inventados e essas histórias que não são minhas. Graças a Deus que setembro chegou lindo, suave e doce. Trazendo uma paz que eu não sabia ser possível. Setembro trouxe pessoas lindas e risadas de doer a barriga. Veio embalado de música alta e coisas novas. A verdade é que setembro me mostrou o que eu já sabia há muito tempo: você não volta.

Mesmo que eu escreva mais um milhão de textos para você, mesmo que eu me fantasie da sua super-heroína favorita, mesmo que eu apareça na porta da sua faculdade só para dizer que te amo e que sinto sua falta. Setembro mal começou e já me mostrou tantas coisas... eu até pintei as paredes da sala. Descobri também que você é um idiota como todos os outros que apareceram depois de você. Não por sumir ou por não me amar mais. Você é um idiota por ler todos os textos que já te escrevi e ficar em silêncio. Me ver fantasiada da sua super-heroína favorita e ficar em silêncio. Ver todas essas coisas que já fiz para você e não se arriscar a dizer nada além de "é para mim?" Para que outro cara desse mundo seria, se não você? Já não faz mais diferença. Você não foi platônico nem inventado, você foi real. Mas acabou, como tudo no mundo um dia acaba. Que venham os próximos amores, sejam eles inventados, platônicos ou impossíveis. Mas que seja amor e que seja palpável. Que seja doce e que seja intenso. Que venha outubro, mas sem pressa. Não corra, setembro.