A gente não sabe de nada

Eu achava que um mais um era dois.

Não sei como explicar ou argumentar, mas eu tinha isso muito claro na minha mente. Eu era apaixonada por matemática no colégio, eu era ótima (exceto na oitava série, rs). Eu achava matemática uma matéria simples, que você aprendia a fórmula e fazia, mas eu não escolhi exatas para minha vida, ainda que eu achasse algo simples e mesmo que eu gostasse. Acho que nunca gostei das coisas simples. Quer dizer, eu gosto de detalhes e da simplicidade das coisas, mas não de uma vida simples. Aí eu escolhi a loucura que é fazer humanas.

Na escola, nos ensinam que precisamos aprender matemática porque nós a usaremos ao longo da vida. Sim. No mercado, na padaria, em qualquer lugar. Para as coisas simples. Mas para as coisas que não são exatas, a matemática não se aplica, ainda que a gente insista em explicar a vida através da matemática tantas vezes. Se fulano gosta da ciclana e a ciclana gosta do fulano, por que eles não estão juntos? Porque um mais um é dois. Então por que eles não estão juntos? 

A gente adora palpitar, dar opinião. A gente vai crescendo e vai acreditando ser capaz de avaliar a vida, as coisas, o amor, a amizade. A gente acha que vai ficando craque em diversos quesitos, que vai ficando sabido, que sabe quase tudo sobre quase tudo. Até mesmo eu. Eu já escrevi muitas e muitas vezes sobre coisas que achei que sabia, que conhecia. Mas eu percebi que eu só escrevia sobre as coisas que eu me lembrava. E como eu me lembrava. 

Esse texto é só para dizer que a gente não sabe nada. A gente não escreve e não fala sobre o que a gente sabe, mas sobre o que a gente se lembra. Sobre o que a gente acha que é verdade, sobre o que a gente carrega. Sobre o que nós temos e o que gostaríamos de ter. Esse texto é só para contar para vocês que, ainda que estar certo seja ótimo, a melhor coisa do mundo é descobrir que estávamos errados. Acordar um dia desses e descobrir que mamão não é tão ruim, que aquela menina insuportável nas redes sociais é um doce, que aquela piada que você achava engraçada não é mais, que você não ama mais aquela pessoa que você jurou que ia amar para sempre, mas é possível amar de novo. E que tudo é possível. 

Que maravilha é acordar um dia e descobrir que você não é mais a mesma pessoa. Se olhar no espelho e não se reconhecer, mas amar muito mais a pessoa que você está vendo. Só vim dizer que mudar é maravilhoso, que não gostar mais daquelas coisas de anos atrás - ou até mesmo aquelas que você gostava na semana passada - não tem problema. Mudar é preciso. E eu espero que vocês mudem. 

Quando meus amigos faziam aniversário, eu não cansava de dizer "não mude, seja sempre essa pessoa maravilhosa". Aproveito para mudar isso aqui. Peço desculpas. Amigos queridos, eu espero que vocês mudem. Mudem muito, o tempo todo, e espero poder acompanhar essa mudança. Espero sobreviver a elas. Mas, se no meio do caminho a gente se perder, que um dia a gente se encontre. E se não nos encontrarmos, continuo torcendo por vocês.

Eu sempre fui movida à paixão. Eu sempre gostei da intensidade, da loucura. E eu sempre tive curiosidade de provar da calmaria, da serenidade. Eu sempre quis conhecer a tal da paz, mas eu morria de medo de que a paz não trouxesse serenidade. E se a loucura fosse a minha paz? Eu passei a vida toda fugindo das coisas simples, mas hoje, pela primeira vez, eu gosto de algo simples. Tão simples quanto respirar. 

Só vim dizer que a gente não sabe de nada. Não sabe nada do amor, da vida, dos mistérios, nem das coisas mais claras. A gente não sabe nada inclusive sobre aquilo que está claro diante dos nossos olhos. A gente não sabe de nada. E eu só vim dizer que essa é a única coisa que eu sei, agora. Mas talvez eu esteja errada.