Sobre perder aonde queríamos voltar

Eu penso se eu tô errado ou se eu tô certo
Em cultivar esse bem-querer
O problema é que já tem alguém do seu lado
E eu me sinto tão errado por tentar me aproximar
Por isso eu mantenho a distância necessária
Pra que não se esqueça, minha cara
Que ao meu lado é um bom lugar
Mais que isso eu não vou fazer, não
Apesar de querer

A vida muda e, com ela, nós também mudamos. A gente cresce, amadurece e tudo naturalmente se torna diferente. Mudamos os cabelos, o corpo, o jeito... Mas hoje me dei conta de que essas mudanças podem ser mais profundas e isso me doeu um pouco.

Nos últimos anos, a nossa relação foi de idas e vindas. Desde o rompimento, eu lembro de tentar seguir a vida enquanto via, ainda que de longe, você seguindo a sua. Mas vez ou outra você surgia. Acho que quando você se lembra do quanto era gostoso o que vivemos, me manda uma mensagem. E eu, que ainda sou um pouco sua, te recebo de volta.

Falar com você tem um gosto delicioso de nostalgia. Saudade de quem eu era e de como eu era quando estávamos juntos. A vida era tão mais simples e divertida. Não tinha tantas cobranças, responsabilidades e desafios a serem enfrentados. Falar com você traz a tona aquela Amanda cheia de sonhos, que amanhecia ao telefone, dando risadas e fazendo planos para o futuro.

Por mais que eu acredite que éramos incríveis juntos, não deu certo. A vida seguiu. De tempos em tempos você me procurou, a gente atualizou as novidades, mas logo nos afastamos de novo. Algumas vezes por decisão sua, outras após nossas brigas, já que suas vindas sempre me faziam nutrir a esperança de que iríamos tentar algo de novo (o que sempre terminava em frustração, claro!). Até que você voltou mais uma vez e marcamos uma ligação para hoje, como nos velhos tempos. Minha ansiedade talvez já fosse um sinal de que dessa vez seria diferente.

Eu sabia que mexeria comigo passar horas conversando com você, igual antigamente. Ver o seu rosto, jogar aqueles mesmos jogos, dar boas risadas... para tudo isso eu estava preparada, pois já fizemos isso várias outras vezes. Só que nada me preparou para a notícia de que você está construindo uma família. Foi inevitável não voltar ao passado, quando eu imaginava você fazendo isso, mas comigo.

Agora que desligamos a chamada e seu rosto lindo não está mais na tela do meu computador, consigo ser racional. A verdade é que nada prepara a gente para esse momento. Quando terminamos com uma pessoa, nós nunca achamos que ela seguirá a vida e chegará a um ponto tão sério. Casar, ter filhos... eu sempre soube que você faria isso em algum momento. Lembro das nossas conversas durante a madrugada e de você dizendo que esse era o seu sonho. Mas é doloroso saber que você está realizando com alguém que não sou eu.

Os seus retornos sempre me faziam, ainda que inconscientemente, pensar em como seria se tentássemos de novo. Mais velhos, mais independentes, mais experientes. Poderia dar certo? Nem o fato de você ter se casado me impediu de imaginar isso, ainda que secretamente. Nunca desejei o seu mal, mas casamentos não dão certo, a gente sabe. Se um dia você se separasse, será que você me procuraria? Você iria me querer? Quase todas as noites, antes de dormir, eu planejava um mundo em que estávamos juntos e éramos, novamente, nós contra o mundo. Confesso que sempre me perguntei se você imaginava essas coisas também. Será que as nossas conversas mexiam com você ao ponto de te fazer pensar como seria viver ao meu lado ou você só se divertia com a nostalgia do seu eu mais jovem?

Mas agora é tudo diferente. A notícia de que você terá um filho me paralisou. Eu tentei manter a postura, fiquei verdadeiramente feliz por você e juro que todos os meus bons votos foram de coração, só que a minha ficha ainda não caiu completamente. Você mesmo disse, ao longo da conversa, que casamentos podem terminar, mas filhos são vínculos eternos. E esse era o tipo de vínculo que eu sonhava em ter com você. Ainda que a maternidade não esteja na minha lista de metas para o futuro, com você eu estaria disposta a tentar. Por nós.

Só que eu também preciso ser sincera: você nunca me deu esperanças. Desde o começo, parece que você só quer mesmo a minha amizade e eu fico feliz por isso, mas meu erro foi criar expectativas de que poderia ser mais. Digo que errei, pois você nunca me disse que também sentia a minha falta ou que alguma vez desejou me ter de volta. Mas como controlar o desejo de viver completamente algo que parece ter sido vivido só pela metade?

Para mim, nós poderíamos ser muito mais. Estamos maduros, por isso a gente conseguiria fazer dar certo. Seríamos um novo casal, mas com toda a leveza e paixão que compartilhamos desde o começo. Só que justamente por não sermos mais os mesmos, tudo isso parece distante, quase impossível. Até mesmo sonhar e desejar viver algo com você é errado. Eu me sinto mal, pois agora a história envolve mais pessoas e elas também merecem a felicidade. É confuso. E triste.

Nos últimos dois textos que fiz sobre você, em agosto de 2022, eu disse que não sabia como terminar o texto, da mesma forma que nunca soube terminar o que sentia por você. Novamente digo: como terminar o que parece que não acabou? Como colocar um fim em uma história que merece ter continuação? Eu ainda não sei, assim como você não sabe como será sua nova vida. Mas de uma coisa tenho certeza: você será o melhor pai do mundo e eu vou, em respeito e gratidão a tudo o que vivemos, manter nossa amizade. Sempre torcerei por você, mas sem os planos de que eu volte a fazer parte da sua vida. Não há espaço para isso, já que agora ela parece estar completa, como você sempre sonhou.

Não prometo que este será o último texto que escreverei sobre você ou que não ficarei imaginando nosso reencontro, mas acho que a melhor forma de terminar esse texto é te fazendo um convite: vamos continuar fazendo o melhor que podemos, da forma que podemos? A vida vai seguir e, de algum jeito, eu sei que tudo vai dar certo para nós dois. Ainda que não exista mais um nós, eu sempre terei os minutos antes de dormir para imaginar como seria se houvesse.

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