O (super)estimado felizes para sempre

Oh, simple thing, where have you gone
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you're gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin


Eu cresci assistindo filmes de romance. Mas não qualquer romance, eram aqueles clichês hollywoodianos que em vinte minutos de filme você já descobre todo o enredo e como será o final.

Ter sido uma criança antissocial fez com que eu começasse bem cedo com esse vício, acompanhando todas as histórias "água com açúcar" que passavam na sessão da tarde. Por isso eu tenho um vasto repertório de romances e, com isso, é comum que eu faça o que faço de pior: fantasiar que minha vida é como nos filmes que eu amo assistir.

Quando me apaixonei pelo Lucas Daniel, o garoto mais bonito e popular da escola (que claramente não dava a mínima para mim), achei que nossa história seria como a de Sam Montgomery e Austin Ames em A Nova Cinderela. Foram meses esperando ele me notar para então perceber que era meu príncipe encantado.

Anos depois, foi o professor de Educação Física que me fez suspirar e tirar as melhores notas nessa disciplina que eu detestava. Estava ali a minha chance de viver o que a Josie viveu com o Sam em Nunca Fui Beijada. Felizmente, o professor prezava pela ética e nunca sequer me deu moral. Tá certo que ano passado ele começou a me seguir no Instagram e me chamou para sair, mas nunca tive coragem de perguntar se ele se lembrava de mim. Quero acreditar que mudei tanto a ponto de agora estar irreconhecível e nunca mais relembrar essas vergonhas da adolescência.

Com a maioridade veio o meu primeiro namorado. Jovens, apaixonados, sempre passeando de carro e ouvindo músicas. Em uma época em que o Spotify estava engatinhando, nós já criávamos playlists para cada "viagem" de carro que faríamos. Para todas as situações eu criava uma trilha sonora: músicas para ouvir em dias de chuva, em dias de calor, durante o pôr do sol, durante o nascer do sol... Foi o mais próximo que cheguei de protagonizar uma relação repleta de canções, como Claire e Drew em Elizabethtown.

O final foi catastrófico, como de um filme dramático. Nesse momento, decidi focar em mim e viver a minha história de amor-próprio, igual a Liz Gilbert em Comer, Rezar, Amar. Se você já assistiu, certamente sabe que tanta autossuficiência não dura muito tempo, pois ela logo se apaixona por um brasileiro belíssimo e o filme termina com o invejado "felizes para sempre". E eu também estava louca para encontrar o meu amor eterno.

Quando eu já estava quase desistindo do amor, foi que comecei a conversar com um carinha em um jogo de música. Como em tudo na minha vida, esse encontro improvável também tinha que ter um problema e, neste caso, eram os quase 900 quilômetros que nos separavam. Mas foi então que lembrei de como Erin e Garrett fizeram dar certo em Amor a Distância e tive certeza que conseguiríamos também.

Claro que uma jovem de 21 anos não tinha a menor maturidade para manter um relacionamento assim e por isso acabou. Foi então que decidi viver à flor da pele. A cada dia, um novo ficante. Parando para refletir hoje, chego a conclusão que a distância não me permitiu viver aquele romance do jeito que eu estava acostumada, até o final, até desgastar e não aguentar olhar para o outro. Acabou, mas ficou um gosto de quero mais e incontáveis variáveis. E se eu morasse mais perto? E se eu tivesse ido visitá-lo mais vezes? E se...

Quando um amor acaba sem acabar, a gente precisa se virar para dar um fim e seguir em frente. A forma que encontrei foi me envolvendo com vários caras, para não ter tempo de lembrar dele. Lógico que não funcionou, mas depois de um tempo o sentimento diminuiu e eu consegui me apaixonar por outro. Um cara com quem eu tinha uma relação como a de Jamie e Dylan em Amizade Colorida. Era para ser só sexo, mas quem disse que eu entendi? Ficou confuso, começou a ter sentimentos envolvidos e o cara (que era um grande babaca) não deixou claro o que queria. Relembrando agora, ele até me dava esperanças, pois eu o enchia de elogios e ele ficava com o ego gigantesco. Foi em uma viagem juntos para outro estado que ele me disse que eu havia confundido tudo e que ele não me queria. Novamente o final feliz ficou só no filme mesmo.

Desde então, tive outros amores e juro que em todos eu conseguia relacionar o que eu estava vivendo com algum filme. Em todos eu nutri o sentimento de viver um amor de cinema, com reviravoltas, declarações inesperadas, beijos na chuva e me sentindo amada todos os dias. Hoje estou prestes a completar 30 anos e acho que chegou a hora de deixar o mundo de fantasia para trás. Não teve felizes para sempre, não teve declaração inesperada, não teve beijo na chuva e em muitos dias eu não me senti amada. E tá tudo bem.

Hoje, do alto da minha maturidade, olho para trás e vejo que a única história de filme que mais se aproxima com a minha vida é a de Gigi Philips em Ele Não Está Tão Afim de Você. Esse, aliás, sempre foi o meu filme favorito, mas eu nunca soube muito bem o porquê. Hoje sei. Mas como todo filme que gosto, ele também tem um final feliz. Pensando positivamente, acho que posso ter um também, mas, até lá, continuarei repetindo para mim mesma a maior lição que Gigi me ensinou neste filme:

"Ensinam muitas coisas para as garotas: se um cara lhe machuca, ele gosta de você. Nunca tente aparar a própria franja. E, um dia, você vai conhecer um cara incrível e ser feliz para sempre. Todo filme e toda história implora para esperarmos por isso: a reviravolta no terceiro ato, a declaração de amor inesperada, a exceção à regra. Mas às vezes focamos tanto em achar nosso final feliz que não aprendemos a ler os sinais, a diferenciar entre quem nos quer e quem não nos quer, entre os que vão ficar e os que vão te deixar. E talvez esse final feliz não inclua um cara incrível. Talvez seja você sozinha, recolhendo os cacos e recomeçando, ficando livre para algo melhor no futuro. Talvez o final feliz seja só seguir em frente. Ou talvez o final feliz seja isso: saber que mesmo com ligações sem retorno e corações partidos, com todos os erros estúpidos e sinais mal interpretados, com toda a vergonha e todo constrangimento, você nunca perdeu a esperança."

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