Quarta-Feira
Eu nunca soube lidar com finais. Nunca consegui aceitar as coisas que terminam independente de querermos ou não, na verdade, eu nunca consegui aceitar as coisas que não dependem de mim para acontecer. Eu sempre achei que sabia exatamente o que era melhor, e por isso queria ter total controle sobre o que acontecia na minha vida.
Também sempre achei engraçado como as pessoas assimilam términos apenas com relacionamentos amorosos, até o dia em que vivi um. Eu era só uma adolescente quando percebi que nossas assimilações sempre estão relacionadas ao que nos causou alegrias intensas ou tristezas arrasadoras. Tudo o que vivemos está sujeito a ter um fim. Sem aviso prévio, sem manual de instruções e, quase sempre, sem nosso aval. Era isso. Acabou. Vida que segue. E quem disse que ela segue a mesma?
Nada fica igual depois de um fim. Se o que vivemos não mudou nossa vida, ter de conviver com a falta disso nos torna diferente. Acredito que não são as desilusões nem os sofrimentos que definem quem somos, mas os fins. Somos amontoados de fins, recomeços e no que isso nos tornou. Podemos decorar todas as frases feitas e teorias do desapego, mas nada disso adianta quando você está frente a frente com o imprevisível. Não temos como nos programar para sairmos sem danos, nem nos reprogramar para começar sem algo ou alguém. A alegria da vida continua em ser surpreendido por ela, mas isso não quer dizer que todas as surpresas serão boas.
Ironicamente, meu livro favorito da Martha Medeiros retrata justamente o que acontece depois de um rompimento. Li Fora de Mim zilhões de vezes e em todas só reforcei minha ideia de que não existe certo, errado nem dignidade quando se trata de perda. As pessoas são diferentes e isso também percebemos na intensidade, duração ou demonstração do sofrimento alheio. A verdade é que o fim é sempre de quem vai, quem fica continua. Não é fácil e ouvir “Você vai conseguir”, “Logo passa”, “Você não vai morrer por isso”, “Foi melhor assim” e todos esses discursos desgastados de autoajuda barata só piora. Talvez você não consiga. Talvez demore muito para passar. Talvez seu verdadeiro eu morra por isso. E não, se te faz sofrer, não foi melhor assim. Pode ser quando você estiver completamente recuperado e puder lembrar disso vendo somente o lado positivo, mas isso acontecerá um dia. Algum dia. Não hoje.
Hoje tem dor, coração partido, desilusão, lágrimas, lembranças, desespero, falta de rumo, descrença no amor, dúvidas em relação ao futuro… Hoje tem sofrimento, mas, assim como tudo nessa vida, isso também tem um fim…