Convivendo com o Fim
Estou
aqui sentada, te olhando e achando graça. Tô achando
graça do modo como você tá me olhando disfarçadamente, de longe, fugindo o
olhar quando os nossos olhares se encontram, porque você não quer dar o braço a
torcer. Nós dois sabemos que foi muito forte o que houve entre nós, só você que
teima em querer me fazer perguntas que só as entrelinhas podem responder. Você
deveria saber, você me conhece bem e sabe que eu nunca digo assim,
escancaradamente, letra por letra, falada. Deixa eu te dizer uma coisa, garoto: escrever para você não significa que eu fique chorando pelos cantos por você
ir embora. Se você acha que passo os finais de semana trancada no quarto, escrevendo mil textos para você, está enganado. Estou sempre bem acompanhada
dos meus bons livros e dos meus bons amigos. Tô sempre rindo alto, dançando
até não sentir mais os meus pés e cantando alto.
O problema é que tudo isso é para tentar preencher o vazio que você deixou e essa minha vida social movimentada é um dos meus métodos para buscar alguém que supere você, que me faça parar de pensar em você. Eu não sofro, dramática e triste, pela sua ausência. Penso em você em todos os dias da minha vida, mas eu não sofro. A tristeza não torna o amor mais real ou poético. Eu apenas sinto a sua falta. Sinto falta do seu sorriso doce, das suas mãos quentes, do seu abraço apertado… Sinto falta de tudo o que você foi para mim. Eu te vejo em cada música — por mais boba que seja — em cada história de amor, em cada frase bonitinha e naquele cara da novela das 9. Eu te procuro na rua, no ônibus, no supermercado, no shopping e na minha casa. Eu não te encontro.
Encontrei esse fim de semana e aí tô te olhando agora, achando engraçado e sentindo uma coisa linda. Aquela coisa linda que eu sempre senti com você e nunca soube explicar. Sabe, por ser assim, sempre em excesso e nunca compacta, eu canso de sentir sua falta. Canso porque, às vezes, eu sinto tanto tanto a sua falta, que dói e então choro até murchar. Choro até que o meu corpo implore para que eu reponha o líquido. Então, eu me renovo. Amar você não machuca, e sou tão feliz por isso…
As minhas amigas vivem me dizendo: “Você vai encontrar muitos outros caras por aí, não se preocupa”. Eu sei. Todos sabemos. Mas eu também sei que nenhum deles será você. Repito, garoto: não é porque te escrevo que te espero para sempre. Tenho muita fome de vida para desperdiçá-la esperando alguém que talvez não volte nunca mais. Por mais que eu saiba que você volta, que eu volto... Porque no final nós sempre voltamos um para o outro e nos permitimos sentir outra vez.
Você foi só o início, eu sei. Durante esses meios, outras pessoas surgem, outras pessoas passam e essas mesmas pessoas vão embora. Aí no final é sempre você. É sempre nós dois. E por mais que o mundo gire e a vida mude, a gente é para sempre, mesmo que esse tal de para sempre não exista. Sabe, eu ainda tô te olhando e rindo por dentro. Tô sorrindo por fora. E olha só, você não está mais desviando o olhar. Agora estamos nos encarando e rindo. É porque a gente sabe que as nossas exatidões não funcionam com mais ninguém. A gente se completa! Espero que você não tenha perguntas ou dúvidas. Leia as entrelinhas, a resposta está lá. Sei que você sabe. Não precisa questionar, o que é nosso está guardado…