Deixa eu me livrar das minhas marcas
Deixa eu me lembrar de criar asas
Deixa que esse verão eu faço só
Deixa que esse verão eu faço só
Deixa que nesse verão eu faço sol
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Eu achei que nunca precisaria escrever um dos meus textos
especialidades para você. Apesar de já ter escrito vários, nenhum era ruim ou
triste. Talvez por que, até hoje, eu ainda tinha esperança que você fosse ser
diferente e que, depois de você, eu não precisaria ter motivos muito sérios
para escrever meus textos exterminadores de homens e sentimentalismo.
Como, desde você, tudo tem sido diferente, esse texto também
tinha que ser. Minha memória é péssima, mas sempre funciona muito bem quando eu
termino um ciclo e vou escrever sobre ele, como um ritual para acabar de vez
com tudo. Diferente de todos os outros, esse eu não estou escrevendo no meu
quarto, acompanhada da minha xícara de Coca-Cola e uma trilha sonora
específica. Eu vim aqui na sua cidade, naquele lugar que você me apresentou,
que tem uma vista linda e um gramado maravilhoso. Eu vim por que eu precisava
lembrar de todo o trajeto que eu fazia para te ver e passar algumas horas
contigo. Eu precisava vir para sentar em algum lugar e ver outra coisa além
dos seus olhos me encarando, lendo minha alma. Eu vim, como vim todas as vezes que você me chamou. Sem medo
de soar como “mulher fácil” ou “disponível demais”.
Sabe, quando as coisas
chegam ao fim, a gente tem uma mania autodestrutiva de ficar procurando onde foi que erramos. Acho
que meu problema pode ter sido esse, ter vindo demais. Eu fui sua desde o
começo e em todos os sentidos que se pode ser do outro. Com duas semanas você
já sabia que eu te amava e, com pouco mais de um mês, já conhecíamos a família
um do outro. Lembro de, diversas vezes, ter dito que a gente estava
precipitando as coisas, você concordava e tudo seguia igual. Talvez, se a gente
tivesse ido com a calma de casais normais, agora você nem estaria lendo um texto só seu. Mas a nossa intimidade é inegável, assim como nosso sentimento.
Você me dava todos os indícios que também sentia o mesmo por
mim, até se sentiu contrariado quando eu disse achar não ser recíproco o que eu
sentia. “O quê você quer? Uma prova de amor? Uma aliança? Um status no
Facebook?” Não você sabe que não. Por mais que eu falasse, essas banalidades
nunca foram prioridades para mim. Será que eu brinquei demais, disse coisas
demais e te sobrecarreguei com informações e sentimentos? O fim nos faz querer
pensar demais, entender demais. Nos leva a supor coisas demais...
Esse texto é cheio de talvez e de vindas, pelas minhas vindas e suas inconstâncias, pelas minhas presenças e suas indecisões, pelo meu tornado
de sentimentos sinceros e seu terremoto de insegurança e medo. Este texto vai
soar triste e menos poético, como todos os outros, mas esse é completamente
real. Esse texto têm local, data, hora, você e eu. Esse é aqui, na sua praça, só para
você. Esse é para te fazer lembrar e me ensinar a esquecer. Esse tem sol, calor,
casais, crianças, cachorros e até cheiro de tinta (o mesmo que senti quando
entrei na sua casa, pela primeira vez). Esse não tem música nem o som da sua voz. Esse tem gritos de
crianças brincando, som de passos, barulho de carros passando e lágrimas. Muitas
lágrimas. Esse é sobre o fim, sobre ter você e esse você não me pertencer mais. E,
principalmente, esse texto tem um eu que nunca teve você e que, depois disso, não sabe se
quer ter mais alguém, algum dia...