Voltando a Escrever...


A gente tenta disfarçar que não dói sair, assim, da vida de alguém. Instantaneamente. Como se ela nunca tivesse pisado os pés na nossa Lua. Como se tal pessoa nunca tivesse entrado em nós em todos os aspectos. Como se ela não tivesse nos visto sangrar. Doer pelas asperezas do mundo. Chorar descompassadamente em dias completamente ruins, onde os postes da cidade cedem à chuva e os casais terminam seus relacionamentos de anos bem no meio da rua.

A gente muda o percurso para não lembrar. Evitamos os lugares como as praças, as ruas próximas à faculdade, as livrarias badaladas por onde mãos conversavam e olhares atestavam que existia amor.
O seu medo é ir a esses lugares e perceber que o amor ainda existe.

A gente tenta disfarçar que não dói aquela pessoa indo embora de nós tão rápido quanto cometa que ameaça se chocar com a terra. Vamos à padaria ouvindo outra playlist que não a criada para ser ouvida por ambos; muda-se os planos: não mais Curitiba, Salvador talvez seja melhor. Exclui-se do facebook, instagram e todas as outras redes sociais. Apaga-se da memória como se fosse um cordão umbilical, corta-se os laços afetivos com os amigos, familiares, tudo que lembre-o. A gente disfarça indo a festas, a lugares desconhecidos, a salas de terapia. Tá tudo bem, dizemos.

Por dentro, ruas devastadas e palpitação toda vez em que ouve-se o nome dele. É ele ali do outro lado da rua?
Tanto medo de encontrar com ele e ele estar com outra. Como vou sobreviver a esse choque que é encontrá-lo seguindo a vida?

As pessoas saem da nossa vida na mesma medida em que entram, até mesmo antes. Algumas delas, vão mais rápido do que queremos ou esperamos. Quando já se vê, elas estão em outros lugares, com outras pessoas, fazendo outros planos.

As pessoas tendem a fugir da solidão do término. Quando nos encontramos sozinhos, ficamos desesperados pela ideia de autoconhecimento. Nosso cérebro busca qualquer mínima distração que nos dê a impressão de que estamos seguindo, mesmo que minimamente. 

O ponto: aquela pessoa que foi embora da sua vida está, provavelmente, na mesma situação inerte que você.

Pessoas que estendem a bandeira do descompromisso, da felicidade instantânea, do estar com todos e com ninguém, provavelmente amargam, todos os dias, a consciência de perceberem que estão sozinhas.
Não é porque ele seguiu por um caminho aparentemente feliz que ele está feliz. Mas você não precisa pensar nisso. Já foi, acabou.

Inevitavelmente, buscamos momentos para lembrar que foi bom. Em algum ponto foi bom.

Não se sabe quando deixou de ser, nem quando o relacionamento esfriou, muito menos se houveram reais motivos. 

Algumas pessoas só vão.
Para alastrarem irresponsabilidade, espalharem desamor, ferirem outras pessoas...

Talvez você tenha sido escolhida para estar naquele espaço-tempo porque necessitava aprender um pouco. Ou talvez porque precisasse ensinar.
Então não se sinta culpada porque "não deu certo", 
Ou porque "ele está feliz agora",
Ou porque seu percurso precisa ser mudado pois você não suporta lembrar que ele existe ali, naqueles centímetros entre a casa e a faculdade, entre o bar e a igreja.


Não se sinta menor porque ele entrou na sua vida e saiu dela apressadamente.
Você é um quadro grande e bonito.
Tem uns gizes ao lado. 
Está na hora de aprender.