Reciprocidade (de novo!)

A: Mas é um ciclo. Pensa... Deve ter alguém que gosta dela, mas ela não está nem aí por que gosta de você. Você não está nem aí pra ela por que gosta de outra pessoa, e assim vai... A gente sempre machuca e é machucado. Sempre.
B: Sim... Infelizmente eu já pensei nisso. E penso sempre.
A: Queria achar alguém que gostasse de mim, pra eu gostar de volta. Mas, pelo que entendi, reciprocidade não é algo fácil...
B: Quando eu encanei nesse assunto, descobri que a maioria das pessoas, praticamente todas, não estão com os parceiros que gostariam de estar. Isso me leva até a pensar que esse lance de reciprocidade não existe na fita do amor...

Estou há tempos sem escrever nada. Não consigo dizer ao certo o motivo. A faculdade tem exigido mais de mim, artigos científicos estão acabando com a minha criatividade e isso tudo tem resumido minha vida. Não dá pra escrever sobre meus sentimentos se não há nada que me dê inspiração. E olha que eu tentei... Assisti todos os filmes românticos que eu poderia ver, ouvi todas as músicas espetaculares que o Spotify colocou nas playlists sobre amor, coração partido e afins. Fui de Titanic a Ghost, de Whitney Houston a Sam Smith. Cheguei a apelar para Ele Não Está Tão Afim de Você, mas Gigi não me ajudou. Eu procurei motivos para escrever mas foi durante a noite, em uma conversa no Whatsapp, que ele apareceu. 
A inspiração acaba sendo como o amor. Quanto mais a gente tenta ter, mais longe estamos de conseguir de verdade. Você pode escrever um texto sobre algo que você não conhece assim como você pode fingir que ama alguém, mas o resultado sempre será ruim, doloroso, uma perda de tempo. Eu poderia também dizer que tudo o que fazemos acaba atingindo outras pessoas, mas tem muita gente que não se importa com isso. Fato é que, em mais uma dessas minhas conversas tentando aconselhar amigos, voltei a falar sobre reciprocidade.
Eu estava mesmo convencida de que isso não existe, afinal parece impossível dar e receber algo na mesma proporção, ainda mais um sentimento. Mas, ainda que impossível, esse acabava sendo meu tipo ideal, minha meta de vida. A gente merece um amor que nos retribua tudo o que fazemos, que nos ame da mesma forma, com a mesma intensidade. Mas cansa esperar, então a gente acaba se contentando com o que temos mais próximo. Injusto? Ridículo? Egoísta? Sim. Pessoas perdem tempo. O que é mais sádico: ficar com quem te ama mesmo sem sentir o mesmo ou aceitar uma pessoa que não te ama, só para tê-la por perto?
Não é que a gente não sabe nada sobre amor, a gente não sabe nada é sobre reciprocidade. A gente tenta fazer dar certo (e no fundo pode até ser que a gente queira mesmo isso), mas não dá. Mesmo que a gente aprenda como amar alguém que já nos ama, ainda estaremos em desvantagem. O amor sempre será unilateralmente desproporcional. Lembro que em todos os meus romances houve a competição do "quem ama mais", em algum momento:
- Eu te amo!
- Eu também te amo...
- Mas eu amo mais...
- Não, sou eu que amo mais!
- Eu amo até a lua.
- Eu amo até a lua... Ida e volta!
As comparações eram impossíveis, todas só para superar o outro e não para dimensionar o que se sentia. No fim, chegava-se ao veredito de que "amamos igual, então". Eu nunca amei igual e hoje vejo que sempre fui eu quem amou mais. Eu amei mais quando fui deixada e (me) amei mais quando parti ou deixei ir. Mas, quer saber? Hoje eu aprendi que não é crime amar (de)mais, seja recíproco ou não. Crime mesmo é perder coisas, pessoas e momentos incríveis por não saber sentir...