A Despedida do Amor, de Martha Medeiros

Vou te desejar tudo o que você merece
Vê se não esquece...
Canta-Vento e Amanda Bebiano - A Fada e o Mago (Bons Votos)

"Existe duas dores de amor. A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel. 

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. 

Você deve achar que eu bebi. Se a luz está sendo vista, adeus dor, não seria assim? Mais ou menos. Há, como falei, duas dores. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por ninguém. Dói também. 

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um suvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação com a qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar. 

É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor-de-cotovelo propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo. 

Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente."



Ps: Isabela me mostrou essa crônica no final do ano passado, disse acreditar que a literatura saberia exatamente como me ajudar a curar o que chamamos de "as dores do viver". Sou fã da Martha e já havia lido isso, mas foi só recentemente que as palavras dela fizeram sentido...

Ps 2: Por causa do Los Hermanos, Lucas conversa comigo rigorosamente todos os dias desde meados de outubro, e isso tem deixado minha vida melhor. Já postei aqui um texto só para ele mas é sempre bom lembrá-lo o quanto ele é incrível e como desejo que continue fazendo parte da minha vida. Música, que foi algo que tanto compartilhamos com o outro, conseguiu nos unir e se temos que registrar algo juntos, que seja através de uma canção. Mago, obrigada por me aturar todos esses dias e conseguir transformar minhas histórias e sentimentos confusos em música. Obrigada por me ajudar a me soltar para cantar e por gravar isso contigo. Obrigada por aceitar me ver sempre que te ligo, te mando mensagem ou te chamo por transmissão de pensamento, nem que seja pra eu pedir um abraço, o seu abraço. Obrigada pela amizade sincera que eu não sabia que existia, pelo carinho que eu não sabia que merecia ganhar e pela companhia que, depois de ontem, acho que não tem como ficar melhor. Se eu acreditava que qualquer coisa feita ao seu lado me deixaria feliz, cantar contigo só me deu essa certeza. Você é o que tenho de melhor em minha vida hoje, e meus bons votos pra você sempre serão bons de verdade! haha